Obra é trabalho de conclusão de curso de estudante da UFPE
Por Joebson José
(Fotografia: Sheyla Caroline)
A cidade de Toritama, conhecida como a “capital do jeans”, recebeu a estreia do filme “No Fio do Destino: Mulheres e Jeans em Toritama”, dirigido por Valdenilson Henrique, conhecido também como Romeu. Com uma abordagem diferenciada, a obra busca desmistificar a imagem estereotipada da cidade apenas como polo de trabalho, revelando pessoas e histórias por trás do ouro azul do Agreste, a peça de jeans.
Acompanhando o processo de criação na indústria, vemos três mulheres contarem as suas vivências e relações de trabalho na cidade de Toritama, que integra o maior Polo de Confecções do Estado, junto com os municípios de Caruaru e Santa Cruz do Capibaribe.
Ao trazer uma nova perspectiva sobre a dinâmica da cidade, o curta-metragem explora histórias reais de pessoas que possuem grande experiência na área de confecções de jeans, e que mesmo envoltos na indústria, possuem um tempo destinado ao lazer. A estreia ocorreu no cinema de Seu Aurélio, um ponto de cultura que exemplifica a riqueza cultural na cidade.
O curta é o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Romeu, estudante do curso de Comunicação Social da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), no Centro Acadêmico do Agreste (CAA).
(Fotografia: Sheyla Caroline)
Em uma entrevista exclusiva para a Revista Spia, o diretor revela as motivações e os desafios por trás de "No Fio do Destino: Mulheres e Jeans em Toritama". Confira a seguir os principais trechos dessa conversa:
Como é ver as pessoas prestigiando seu filme após o longo trabalho de pesquisa e produção?
Ah, é incrível, sabe Joebson? Como cineasta, meu papel é contar histórias. Desta vez, tive uma responsabilidade imensa: mostrar, através do cinema, uma nova perspectiva sobre Toritama. Ver a equipe e o público se envolvendo com o filme, compartilhando suas próprias experiências que se conectam com as histórias que contamos, e perceber como quebramos estereótipos sobre os habitantes da cidade, que muitas vezes são reduzidos apenas ao trabalho, é extremamente gratificante para mim.
O que você espera alcançar com o filme? Quais seus objetivos com ele a partir desse lançamento?
Bom, acho que meu principal objetivo já está sendo alcançado, que é justamente quebrar esses estereótipos sobre Toritama. Ver o acolhimento positivo dos habitantes ao filme já me faz sentir que estou no caminho certo. No futuro, quero levar essa nova visão para os festivais de cinema, compartilhando com mais pessoas e desafiando essa ideia limitada que muitos têm da cidade.
Você exprime no filme sua visão de que a cidade é mais que uma indústria do jeans, poderia falar sobre isso?
Sim, Toritama é, sem dúvida, muito mais que uma cidade do jeans, e isso foi algo que quis deixar claro no filme através das histórias das entrevistadas. Cada uma delas traz uma perspectiva única que vai além do trabalho nas fábricas. Toritama é feita de pessoas que têm sonhos, valores e uma forte conexão com sua terra. A cidade carrega uma rica cultura, uma história de resistência e um espírito comunitário que não se limita ao jeans. O filme busca revelar essas camadas, mostrando que, por trás da imagem industrial, existe uma cidade viva, cheia de histórias e de pessoas que merecem ser vistas em toda a sua complexidade.
Como foi o processo de pesquisa sobre a vida das mulheres trabalhadoras de Toritama?
A roteirista Luzia Tôrres fez um trabalho impecável, pois o processo de pesquisa sobre a vida das mulheres trabalhadoras de Toritama foi complexo. A seleção das participantes não foi fácil, pois muitas estavam hesitantes em compartilhar suas histórias e abrir suas vidas para minha equipe. Mas, ao longo da pesquisa, encontramos três mulheres cujas histórias me surpreenderam e me tocaram profundamente, Juliana, uma designer que se tornou modelista e decidiu permanecer em Toritama, Eroniza, uma técnica de enfermagem que optou por seguir como costureira e Eduarda, uma administradora que preferiu trabalhar como vendedora na loja da família . Assim, o que mais me surpreendeu foi perceber como cada uma delas fez escolhas baseadas em uma paixão genuína pelo que fazem.
Quais foram os maiores desafios que a equipe enfrentou durante as filmagens e por que você acha que eles aconteceram?
Nossa maior dificuldade foi nos distanciar da estética e da abordagem de filmes anteriores, como "Estou Me Guardando Para Quando o Carnaval Chegar" (2019), de Marcelo Gomes. Desde o início, meu objetivo foi construir uma narrativa visual que trouxesse uma nova perspectiva sobre Toritama, evitando os ambientes e enquadramentos já explorados. Queria criar algo único, uma resposta tanto em termos de fotografia quanto de narrativa, que mostrasse uma Toritama diferente, longe dos estereótipos e das visões já estabelecidas. O desafio foi justamente romper com essas interpretações imaginativas criadas por cineastas e trazer uma leitura mais fresca e autêntica da cidade e de suas histórias.
(Fotografia: Sheyla Caroline)
É uma honra ver o trabalho realizado em Toritama ganhar destaque e ser reconhecido dessa forma. Agradeço pelo apoio e pelo espaço para compartilhar a história dessas mulheres incríveis, cuja força e resiliência são o verdadeiro fio condutor do nosso documentário. Continuemos a amplificar essas vozes e a valorizar as narrativas que refletem a realidade do nosso Nordeste.